5f2996bd-fa2c-41b0-9761-8d957f8a6770

 

A experiência de apreensão de conteúdo durante a ministração do segundo módulo: “Origem da Logoterapia”, da formação oferecida pela Casa do Sentido, realizado nos dias 15 e 16 de dezembro de 2020, ministrado pela competente Sheila Rabuske, foi um processo de internalização de conceitos, pois além do entendimento e do fundamento teórico dessa abordagem psicológica, também, fomos conduzidos às autorreflexões que nos motivaram à busca da nossa melhor versão, inspirados pela trajetória de vida e profissão do psiquiatra Viktor Frankl, que revolucionou a Psicologia a partir da busca do sentido da vida, ampliando a visão de ser humano às alturas do espírito.

E por falar em alturas, inicio esse texto pontuando uma das últimas falas da professora Sheila Rabuske quando ela ao enfatizar o amor que Viktor Frankl tinha pela vida fez uma referência a sua paixão pela aventura, pela altura, fosse pelo alpinismo ou pela aviação, enfim, ele voou alto e escapou das armadilhas teóricas e vivenciais que arrancavam as “asas” dos homens. Ele não sucumbiu aos paradigmas reducionistas e nem aos caprichos das ciências positivistas, nem às terríveis experiências no campo de concentração, pelo contrário, planou com asas da liberdade do ser e com gratidão assumiu a responsabilidade de estar vivo, tendo autonomia pela tomada de decisões, independentemente das situações e condições que a vida o impusesse – valores, liberdade e responsabilização.

Seria impossível, ainda que mergulhados em atenção pela apreensão dos conceitos fundamentais da Logoterapia explicitados nas aulas, não fazermos uma imersão para dentro de nós mesmos, e logo entender que nossa existência só ganha sentido pleno se sairmos das esquinas do egoísmo em direção ao encontro de nós mesmos no mundo e nos outros – das profundezas do egoísmo às alturas do espírito. Ao mesmo tempo em que ouvíamos sobre a vida de Viktor Frankl, também nos observávamos ecoando em nós nossas próprias escolhas e nem sempre altruístas. A sensação de potência por entendermos como a Logoterapia compreende a liberdade não como um mero presente dos nossos prazeres, mas como parceira da responsabilidade nos fortaleceu como ser humano. Essa ideia nos compromete com nossa existência ainda mais, posto que a visão de ser humano espiritual e autotranscendente foi iluminada pela consciência da dimensão noética.

A metáfora das asas cabe perfeitamente no entendimento da visão de homem inaugurada de forma tão genial por Viktor Frankl: a dimensão espiritual nos dando mais que as profundezas do inconsciente e sim, nos impulsionando às alturas que a consciência noética nos restituiu como pessoa biopsicossocial e espiritual – as asas da responsabilidade que nos faz refletir não necessariamente no “por que” do sofrimento, do adoecimento, mas nos faz refletir em direção ao que nos mantem vivos.

Essa reflexão contrária ao determinismo psíquico que nos propõe a Logoterapia e Análise Existencial Frankliana nos leva em direção à mudança de foco onde a realização interna de sentido torna-se um poderoso fator de proteção contra o vazio existencial. Compreender esse fundamento a partir da vida de Frankl e ao mesmo tempo fazendo uma autorreflexão foi arrebatador. Ao longo da disciplina, eu solidifiquei escolhas pessoais, por exemplo, ao trocar a caminhada que estava fazendo na direção de uma psicologia que buscava um equilíbrio homeostático, em detrimento de uma psicoterapia cuja consciência de que a tensão e as turbulências descortinavam sentidos e evocavam minha liberdade de vontade... O amadurecimento exige um caminhar de pisadas conscientes, sem vitimização e o próximo passo é sempre em direção ao outro, ao mundo, ao sentido da vida.

Eu confesso que durante muitos momentos da aula eu me percebi emocionada, os conceitos tinham ciência e poesia na mesma medida. Eu não tive nenhuma dificuldade em reconhecer os fundamentos da Logoterapia a partir da minha própria vida. E assim como não podemos separar a vida da obra do fundador dessa abordagem, não temos escapatória, pois também não poderemos entender a mesma sem viver seus fundamentos, e nesse processo “simbiótico” de entendimento da Logoterapia como ciência e terapia, os conceitos são apreendidos por todas as nossas dimensões: de corpo, de mente e de espírito. A Logoterapia se fez teoria a partir da própria vida e somente a entenderemos em nossa própria pele, e porque não usarmos novamente a metáfora da liberdade e dizer em nossa própria “asa”... sim, depois dessa aula eu me reconheço tendo asas de espiritualidade na pele de pessoa. É fantástico vivenciar a Psicologia com o referencial das alturas...