cristiano - fto

O nono módulo, intitulado “Teoria das Neuroses e Psicoterapia Centrada no Sentido”, foi realizado virtualmente, no dia vinte e quatro de abril de 2021, pela professora Lorena Bandeira, o qual buscou discutir as nuances da psicoterapia e da teoria das neuroses na perspectiva da Logoterapia, proporcionando uma reflexão acerca dos principais transtornos mentais dentro dessa ótica.

Um dos primeiros pontos colocados pela professora foi a consideração relacionada à enfermidade dentro da perspectiva fenomenológica, sendo um contraste com a visão de alguns filósofos sobre as disfuncionalidades fisiológica e fisiopatológica. Nesse sentido, os pensamentos fenomenológicos de Biswanger e Karl Jaspers consideravam que a psicopatologia é a privação da existência. Seguindo a linha do raciocínio apresentado na afirmação, foi dito que o comportamento anormal é uma nova forma de “ser-no-mundo”. Tal fato contradiz, totalmente, com uma lógica biomédica baseada em padrões de normalidade e no “disfuncional” fisiopatológico. Ainda sob o mesmo viés, a orientadora questiona acerca do entendimento em saúde humana, pelo qual fez críticas ao modelo baseado nos bons funcionamentos fisiológico e bioquímico. Então, podemos entender que, dentro da conjuntura do campo da saúde mental, o raciocínio é valido.

Visando o patológico pelo espectro da saúde mental, nota-se que o terapeuta não deve olhar para o paciente como um ser patológico, mas sim como um ser humano que precisa de ajuda e é repleto de potencialidades e possibilidades, pois o patológico circunda esses dois aspectos. A professora explica sobre os modos de existir dentro de uma perspectiva existencial fazendo alusão à saúde humana. Nessa discussão, vimos que as estruturas da sociedade tendem a tolir a singularidade e massificar os comportamentos e pensamentos das pessoas. Diante disso, a discussão perpassa pelos conceitos dos modos fundamentais da existência: essência extática, modo impróprio de ser e modo próprio deste. Dentro dessas concepções, destaca-se o modo impróprio de ser, cujo ser humano vive uma vida mediana e automática, condicionada pelos totalitarismos e conformismos. A partir disso, temos um homem “desanimado” de suas potencialidades e possibilidades.

Esses totalitarismos estão presentes diariamente na vida das pessoas, tendo por destaques o papel do marketing e da propaganda como influenciadores e criadores de necessidades na sociedade. Durante décadas, somos influenciados a consumir o chocolate batom, através de uma peça de marketing imperativa que transformava as crianças em meros consumidores do produto. Tal massificação retira as possibilidades de escolher e as potencialidades do ser humano.

Ademais, torna-se importante destacar a privação de não fazer parte dessa lógica mercadológica. A “privação social” faz com que várias pessoas se sintam fracassadas, pois a posse de bens materiais remonta a ser bem-sucedido na nossa sociedade. Essa lógica de acesso às mercadorias fazem os homens compararem suas potencialidades entre si, resultando num vazio existencial. Este sintoma tende a aumentar na medida em que comparamos nossas vidas com as outras nas redes sociais, como por exemplo, no Instagram, onde a vida alheia parece uma “propaganda de margarina”, onde há tudo bonito e belo, sem nenhum problema ou infelicidade. Portanto, o ser humano que sofre de vazio existencial e não tem um sentido na vida compensa sua existência através do consumismo. São essas pessoas que devemos “resgatar” através da logoterapia, “descortinando” as possibilidades e potencialidades de suas vidas e desvelando seus sentidos.

Por fim, pode-se concluir que, todo o texto defendeu o conceito de saúde perpassando por várias nuances. Dentro dos bancos da universidade temos um conceito idealizado que é de difícil alcance, o da Organização Mundial da Saúde. Sob a perspectiva do senso comum, é estar livre de doença. Já a fenomenologia propicia uma reflexão do conceito de saúde como saúde mental, pautando-a como privação da existência, pelo qual o ser humano não enxerga as possibilidades e não consegue alcançar a transcendência. Sobretudo, o entendimento da enfermidade como privação da existência possibilita uma prática terapêutica mais humanista, pois não foca na patologia, mas sim nas possibilidades e potencialidades desse ser humano que sofre. Tal fato é muito importante para que a prática da logoterapia ajude nas transformações das pessoas, mentalmente saudáveis, e prospere em uma sociedade mais humana e mais harmônica.