ubirajara

Através da última aula teórico-vivencial, foi possível fazer uma ponte entre a teoria frankliana e minha vida familiar, por exemplo, o cuidado que o meu pai falecido tinha com o jardim que existe no quintal da nossa casa. Ele, por mais de cinquenta anos, regava e cuidava de diversas plantas com todo amor e desprendimento, além de manipular a terra, tornando-a mais fértil. Esquecia-se até do tempo quando estava com as plantas. Hoje, estudando a logoterapia e com mais experiências na vida, percebi como é gratificante manter este legado ou tradição em cuidar de outros seres vivos, nesse sentido, as plantas. Esta atividade, na qual eu não tinha nenhuma experiência, surgiu através de uma intuição de comer algumas pitangas existentes no quintal. Ao experimentar o sabor da fruta, me senti impulsionado a olhar para o quintal de forma diferente. Passei, então, a perceber a importância da natureza em minha vida e senti que seria muito importante continuar o legado que meu pai deixou. Seria uma forma de atender a um chamado da vida, que é manter a saúde e o bem-estar das plantas e de outros seres vivos.

As plantas expressaram um apelo da vida para eu cumprir uma missão; já que elas oferecem o elemento vital para a manutenção da nossa vida, o oxigênio. Como já falava o filósofo Pascal: “beba a intuição”, então, através desta percepção, orientado pela consciência,  acessei  a  dimensão noética, realizando-a  através de valores criativos (quando transversalmente de forma peculiar ofereço  uma resposta concreta e única) e vivenciais (quando, em contato com a natureza e sua multiplicidade, percebo tal importância através dos sentidos e o valor da atitude, quando o sentido que o jardim me proporciona é capaz de superar a falta da figura paterna, ou  seja, esta atividade passou a ser relevante para sair de mim mesmo e permitiu dar um significado à minha vida).

Começarei a estudar um pouco mais de botânica e pedir opinião às pessoas que possuem mais experiências com plantas, para poder criar mais possibilidades de cuidar do jardim como um todo. Esta atuação passou a ser uma forma de aprendizado, visto que cada planta possui especificidades para se desenvolverem de forma adequada. Sendo assim, serei capaz de utilizar a dimensão na ética, também, através da criatividade, ampliando a quantidade de plantas, ou seja, exercendo minha liberdade com responsabilidade em saber até onde eu posso realizar de forma adequada e funcional o papel de jardineiro. As duas capacidades antropológicas fundamentais foram e ainda são importantes para proporcionar sentido ao desempenho desta ação. São elas: autotrascendência, que é destinar amor e consciência a algo que está fora de mim, diminuindo o egoísmo quando sou capaz de esquecer de mim mesmo em prol de outros seres; o autodistanciamento, quando utilizo a liberdade e vou além dos condicionamentos biopsicossociais para servir a “algo”.

Minha esposa duvida da minha capacidade de cuidar deste jardim, em virtude das múltiplas atividades que eu desempenho. Porém, eu aceitei o desafio, desempenhando a função de jardineiro por ser um cocriador da vida, com o objetivo de manter as plantas saudáveis e semear novas espécies de vegetais.

Meu pai cuidou do jardim até o seu falecimento, 2018. Cumpriu muito bem a sua missão de jardineiro autodidata. Deixou o seu legado. Agora, cabe a mim prosseguir a tarefa, dentro do campo das possibilidades, uma vez que, existe a vontade de cuidar, manter e transformar o vergel, que se encontra um pouco descuidado, em um espaço agradável de experenciar a natureza. Eu quero e sei que é possível, através da liberdade de vontade, com responsabilidade, realizar os serviços necessários para a sua manutenção. Explorando algumas teses sobre a pessoa humana, segundo Viktor Frankl, poderei utilizar nesta atividade:

  1. A pessoa é absolutamente um ser novo, irrepetível e único, ou seja, não existem duas pessoas iguais. Portanto, os cuidados realizados no jardim serão influenciados pela minha visão de mundo.
  2. Ao intuir a necessidade do cuidado em relação ao jardim, eu também procurei manter o legado de meu pai. Acessei a dimensão noética, mas mantendo a minha individualidade com direito de concordar ou discordar da forma que ele cuidava do espaço.
  3. A pessoa é espiritual e a função do organismo é instrumental e expressiva. Quando fui intuído a cuidar do jardim e, após provar uma pitanga, expressei a dimensão noética, através de um órgão do sentido, paladar, que confirmou minha vontade de sentido em cuidar do jardim. Minha atitude iria torná-lo mais bonito esteticamente e, também, levaria saúde para as plantas.
  4. A pessoa é dinâmica quando utiliza a capacidade de distanciar-se do psicofísico (antagonismo noopsíquico). Quando a intuição me propôs cuidar do jardim, expressei este autodistanciamento, utilizando a liberdade com responsabilidade, que é a capacidade de responder à liberdade.

Conclusão:                                                                                     

O professor Juan Karlo Gomes de Medeiros conseguiu êxito ao expor com objetividade e uma linguagem simples e, ao mesmo tempo, convincente, o conteúdo abordado no módulo. Foram trabalhados de forma clara os principais conceitos da logoterapia que, no transcorrer do curso da vida, iremos vivenciar em nossos corações.