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Hoje, estávamos pensando em algo que possa ajudar a explicar a necessidade da escrita de um documento em portfólio, logo após o término do módulo/evento.

Vejamos dois exemplos a seguir: um homem que conserva sua barba intocável por meses e uma mulher que mantém seus cabelos intocáveis por anos. Porém, ambos decidiram mudar radicalmente, ele faz a barba e ela corta os cabelos.

Os sujeitos citados, no exemplo anterior, efetuarão as seguintes atividades: Descrever imediatamente as sensações (eventos) que experimentaram após fazer a barba e cortar os cabelos e depois descrever o mesmo exercício de compartilhar tais sensações vividas após uma, duas, três ou mais semanas depois. Indubitavelmente, faz-se necessário aplicar alguns questionamentos plausíveis ou duas indagações fundamentais, tais como: “Haveria diferença entre tais descrições?” A resposta, sem sombra de dúvidas, seria que cada descrição apresenta diferenças entre si, obviamente. Porém, “qual seria a mais rica em detalhes?” Pode-se dizer que a resposta seria: a primeira descrição, por ser imediata, mais vivida (de perto), é considerada a mais rica em detalhes e generalizada, etnograficamente falando, de modo que tais circunstâncias proporcionariam melhor caracterização e compreensão do fenômeno (evento), em vista do documento proposto no portfólio, que seria oportunizar a aprendizagem em descrever as sensações imediatas, vividas através de um determinado evento ou encontro entre realidades distintas – um sujeito e um objeto – que se propõem a dizer algo do mundo que nos rodeia. O que nos diria o sujeito que esta escreve?

Concordamos com ambas as respostas. Mas ainda, com a argumentação exposta na segunda questão. De um lado, porque dependeria diretamente da memória primária imediata; a posteriori, mesmo estando registrada a primeira descrição, a segunda descrição inexoravelmente já apresentará inovações (acréscimos interpretativos que provirão nova visão), pois a memória, nesse sentido, tenderia a uma melhora na descrição, mesmo sabendo o sujeito descritor dessa impossibilidade. Por outro lado, a racionalização da primeira descrição (atitude natural do sujeito descritor e dos outros que tomarão conhecimento da descrição em questão) fará com que uma ou outra condição (presente na primeira descrição) seja desprezada por questões cognitivas de várias ordens ou por questões empírico-evidenciais advindas do desenvolvimento científico, desde então, uma nova condição  (aspecto, fator, ponto de vista, tese etc.) passa a ser inclusa ou acrescentada na nova descrição, sendo ela, uma razão necessária, porém insuficiente para o progresso humano do conhecimento, científico, artístico, teológico ou moral.

Resumindo, faz-se necessário destacar, primeiramente, que a memória é falha, resultando, dessa forma, em um grande problema, mas que ela se debruça sobre o que já foi vivenciado (aquilo que foi sentido e “absorvido” emocionalmente de forma direta sobre o evento), e não sobre o que está registrado como sendo a primeira descrição. E, em segundo lugar, que a razão, por sua vez, se debruçará sobre a resposta dada pela memória e não pela primeira descrição.

Conclusão, a primeira descrição, mais rica e fundamental, como já foi salientado, acabará sofrendo um processo conhecido como “esquecimento cognoscitivo”, dada uma emergência de duas particularidades: uma primeira, natural, mas permitam-nos utilizar a paráfrase para exprimi-la – a primeira vez nunca se esquece. E uma segunda, de natureza cognitiva, a qual, de acordo com Aristóteles, corresponde à característica fundamental e definidora do homem. Com isso, em razão dessas duas particularidades, resultará sua totalidade (na origem) no agora, pois o “hoje” é parcialidade.