Neil

Juan Karlo, professor do quarto módulo do Curso de Formação Clínica em Logoterapia e Análise Existencial Frankliana da Casa do Sentido, ocorrido entre os dias 26 e 27 de janeiro de 2020, já é, sem dúvida, o expoente da arte em transmitir a logoterapia. Quando falamos de professores, na maioria das vezes exageramos sobre suas qualidades ou, ao contrário, como se diz atualmente, os “cancelamos” (projeções, diria Freud). Acredite, este não é o caso. Juan foi capaz de ensinar dialogando. Ao estabelecer uma conversação, agiu como um mestre. A dialogicidade entre mestre e aluno talvez possa ser sintetizada na expressão: Dia = luz = fazer clarear + Logos = informação criadora. Ao conduzir o módulo dessa forma, Juan Karlo não apenas nos transmitiu informações, mas participou ativamente da nossa formação que influenciará o nosso caráter.

A vida sempre foi muito gentil comigo. Nunca me faltaram amigos para partilharmos experiências; a minha profissão facilita encontros profundos com as pessoas. Sou um privilegiado. Vivo numa cidade com 80 mil habitantes e estou inserido numa comunidade médica. Há, no entanto, uma trilha que eu caminho sozinho. No meio de tanta gente maravilhosa não encontro parceiros para discutir a dimensão noética, a angústia existencial e outros temas correlatos. A espiritualidade, por aqui, está contaminada por uma religiosidade dogmática e excludente; para não dizer, comercial. Nesta trilha sinto sozinho, muitas vezes, carente; o que me faz comprar livros em demasia.

Participar deste módulo da formação me proporcionou uma sensação de pertencimento. Foi como se, durante o caminho, começassem a surgir outros peregrinos, nos quais eu poderia trocar experiências e pontuar discordâncias num atrito saudável, que resultasse num crescimento mútuo. Pertencer a um grupo de pessoas tão diferentes (mas que olham na mesma direção) não deixa de ser uma experiência numinosa para mim, porque, ao mesmo tempo, me sinto alegre e temeroso. Exultante por estar na Casa do Sentido. Casa é um substantivo feminino que remete a sensação de acolhimento, união e parentesco que são capazes de nos livrar do isolamento. Quando a casa é “do sentido” ela se torna parte do nosso lugar no mundo. A alegria, no entanto, convive com o medo. O medo de falar demais, de ser aquele indivíduo inoportuno, presente em toda a turma. Minha maior dificuldade, talvez, seja a mesma de muitos outros colegas da formação. Preciso conhecer para poder fazer, mas é também necessário que eu me permita não saber para poder aprender. A formação para mim é uma trilha e, sentir medo não me enfraquece, como diz o ditado japonês: “Ao teu lado amigo, nenhum caminho será longo”.